[ENTREVISTA] ARrC revela bastidores do EP HOPE, e integrante brasileiro destaca conexão com fãs do Brasil
- Samara Barboza
- há 8 minutos
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Formação multinacional inclui um membro brasileiro que busca explorar suas raízes ao longo de sua trajetória como idol

(Divulgação / Mystic Story)
ARrC retornou em meados de julho com o terceiro EP: HOPE, que mistura diferentes gêneros, mas sem esquecer do hip-hop old school característico da discografia do boygroup desde o debut. O nome vem da sigla Always Remember the real Connection (tradução livre: Sempre Lembre da Conexão Real) que vai de encontro a mensagem do mais recente lançamento por explorar a laços e oferecer uma perspectiva esperançosa e otimista diante de pequenos conflitos do cotidiano.
Formado por Andy, Choi Han, Doha, Hyunmin, Jibeen, Kien e Rioto, o ARrC busca trilhar um caminho próprio na indústria do K-pop ao valorizar aquilo que os torna únicos: a multiculturalidade. Considerado pelo grupo como um de seus maiores pontos fortes, esse aspecto se reflete não apenas na identidade artística, mas também no desejo genuíno de criar conexões que superem barreiras geográficas e linguísticas através da música e das vivências dos membros do Estados Unidos, Coreia do Sul, Japão, Vietnã e Brasil.
"ARrC não é apenas o nome do grupo, mas carrega um significado de conexão e sinceridade. Como alguém do Brasil, é muito especial me reconectar com fãs da minha terra natal através do K-pop. Poder expressar meu coração cantando e dançando no mesmo idioma no palco é algo incrível e motivo de muita gratidão. Quero mostrar que somos um grupo que realmente pode se conectar além da nacionalidade e do idioma — de coração para coração", relatou Jibeen, integrante brasileiro, em coletiva de imprensa a qual o Café com Kimchi esteve presente.
O registro das emoções da geração atual

(Divulgação / Mystic Story)
O boygroup estreou oficialmente em 19 agosto de 2024 pela Mystic Story, mesma empresa responsável pelo gerenciamento do Billlie, com o EP [AR^C], que traz o single S&S (Sour and Sweet). O álbum de estreia do grupo se destacou por explorar fábulas clássicas — incluindo a da Raposa e as Uvas — como uma forma de transmitir mensagens de incentivo e reflexão. Essa abordagem marcou o primeiro passo do ARrC na proposta de retratar situações cotidianas em suas músicas, com o objetivo de fazer com que os ouvintes se sintam inspirados e imersos no universo que o grupo busca construir.
A jornada dos novos ídolos avançou até fevereiro de 2025, com o lançamento do segundo mini-álbum, nu kidz: out the box, que marcou uma nova fase na trajetória do grupo ao evidenciar sua evolução desde a estreia. Nessa etapa, o ARrC resgata o espírito do hip-hop nostálgico com o single nu kidz, apresentado originalmente no debut, agora renovado por uma abordagem mais madura. O projeto explora temas como liberdade e individualidade, refletindo o espírito livre dos jovens integrantes que desejam não apenas liderar sua geração, mas também inspirar o público por meio de autenticidade e atitude.
HOPE chega cerca de cinco meses após o segundo EP do grupo, marcando uma nova etapa na discografia do ARrC. O mini-álbum é composto por cinco faixas: awesome, dawns, kick back, vitamin I e night life, carregando uma mensagem de esperança. A abordagem está centrada nas pequenas situações do cotidiano que fogem do controle, como perder um fone de ouvido ou acordar atrasado, mas que, ainda assim, podem ser encaradas com certo otimismo. Com sensibilidade, o álbum traduz a definição de esperança construída pelo ARrC, reforçando seu olhar único sobre a juventude e a realidade.
"Este álbum fala não só sobre esperança, mas também sobre autoestima. Você é uma pessoa muito importante, pode fazer qualquer coisa, e pode arrasar. O ponto principal é que, se trabalharmos juntos, podemos conseguir qualquer coisa. Eu visualizo a esperança de uma forma muito positiva, mas às vezes ela pode envolver caminhos negativos também", explica Hyunmin.
O álbum foi inspirado na música "Hope", de 1977, da banda canadense Klaatu. Enquanto para Klaatu é "um ser que nunca desiste", o ARrC retrata a esperança nas pequenas emoções de um adolescente. O boygroup encoraja os fãs a gritarem a palavra "awesome" (em tradução livre, "incrível") como uma forma de ressignificar essas situações.
A faixa propõe uma nova perspectiva diante de contratempos comuns, como sugere o verso "Mesmo que meu telefone quebre, é incrível." Ou seja, nem tudo precisa ser perfeito — e pequenas falhas não precisam parecer o fim do mundo.
A faixa mistura humor e o cotidiano, mas também é o ápice dos esforços do rupo em passar uma perspectiva alternativa e encorajadora, oferecendo aos fãs uma nova maneira de encarar os desafios da vida com leveza e atitude. Com esse sentido, a faixa-título é a mais pessoal da tracklist de HOPE para o membro Andy. Segundo ele, poder compartilhar esse olhar otimista com os ARrCers (nome do fandom do grupo) é uma forma de ajudá-los.
"O movimento positivo que queremos compartilhar com nossos fãs é realmente a energia que sentimos quando estamos com eles. Assim como a mensagem da nossa música "awesome", mesmo quando enfrentamos azar ou momentos difíceis, queremos superar tudo isso de forma incrível. Sentimos que essa mentalidade é a melhor mensagem que podemos transmitir e compartilhar com nossos fãs", completou Hyunmin.
O videoclipe explora a multiculturalidade do grupo, mergulhando em inspirações da cultura da Coreia do Sul, Japão, Indonésia e Portugal, desde cenários que remetem aos filmes escolares japoneses dos anso 80 a criaturas folclóricas coreanas, o Dokkaebi. No MV, as criaturas reiteram a mensagem bem-humorada de que até os momentos de azar podem se tornar sorte, dependendo do ponto de vista.
O álbum inclui outras quatro faixas que exploram diversas sonoridades em torno de mensagens de autoconfiança, perseverança e pequenas superações existenciais. Com influências de nu jazz, soul, hip-hop e outros gêneros, as músicas revelam a versatilidade do grupo tanto musicalmente quanto emocionalmente.
Durante o processo criativo de HOPE, Hyunmin e Choi Han lembram que algumas decisões foram especialmente desafiadoras. Segundo a dupla, os membros participaram de longas conversas para definir os rumos do álbum, uma vez que a sensação de cada faixa precisava se alinhar ao som e à maneira como certas emoções deveriam ser transmitidas.
"Algumas músicas têm uma vibe acolhedora, como um abraço quente, então escolhemos o R&B suave para combinar. Outras têm uma energia que se alinha mais com drum & bass, representando a energia do nosso grupo. Acho que a melhor forma de mostrar quem somos é escolher o gênero ideal que combine com a melodia e a letra, transmitindo a mensagem da melhor forma", explicou o líder.
Um álbum tão intimista precisava da participação dos membros também em composições. Em dawns, Hyunmin e Choi Han estrearam como compositores. A faixa mistura vários gêneros musicais, incluindo nu jazz, soul e funk, e descreve a emoção de uma conexão que afasta a ansiedade causada por olhar fixamente para a tela do celular e rolar infinitamente pelas redes sociais durante a longa noite até o amanhecer.
Dawns (tradução livre: amanhecer) acompanha a relação do ARrC com esse momento do dia. A canção é descrita como um "diário sonoro pessoal e honesto", também considerada por Hyunmin como seu próprio momento de transformação como artista, por ser sua primeira participação na letra.
"Tentamos capturar aquele sentimento sonhador e leve das primeiras horas da manhã. Focamos em expressar as cores e a atmosfera do amanhecer, não só visualmente, mas também emocionalmente. Quis ser o mais honesto e profundo possível sobre as emoções que sentimos nesse horário. Li muitos livros e fui muito cuidadoso na escolha das palavras, garantindo que tudo fosse expresso da forma única", disse Hyunmin.
"Escrevemos a letra de forma honesta e calma, expressando emoções com as quais pessoas da nossa idade realmente se identificam. Como foi minha primeira vez participando da composição, me senti empolgado e, ao mesmo tempo com um senso de responsabilidade que me motivou positivamente. Ao escrever, imaginei alguém da nossa idade que tem dificuldade em expressar seus sentimentos, e tentei escrever como se estivesse dando voz às emoções guardadas dentro dessa pessoa", completou Choi Han.
No geral, HOPE vai de encontro a mensagem central do boygroup: criar conexões reais, superar incertezas e se apoiar no otimismo em meio a um mundo caótico. Segundo Rioto, os integrantes optaram pelo conceito por acreditarem que saberiam expressar bem os desafios de tais situações da juventude por serem artistas jovens e poderiam capturar e repassar as vivências de forma autentica.
"Sempre tentamos incluir uma mensagem em nossa música e estamos constantemente pensando em como transmitir algo positivo de uma forma que realmente alcance as pessoas ao redor do mundo. Como o conceito deste álbum está intimamente ligado à nossa juventude e histórias pessoais, esperamos muito que essa mensagem se conecte com outros jovens que estejam passando por experiências parecidas", explica Doha.
Uma conexão cada vez mais forte com fãs ao redor do mundo

(Divulgação / Mystic Story)
Formado por membros de diferentes nacionalidades, o ARrC naturalmente tende a cativar fãs ao redor do mundo, especialmente em seus países de origem, unindo todos em um ponto em comum: o próprio grupo. A identidade multinacional dos integrantes vai além do discurso — ela é genuinamente incorporada por meio da inclusão de suas heranças culturais nos trabalhos artísticos e pelo esforço contínuo em estreitar laços com fãs de diferentes regiões.
Nascido no Japão, Rioto confirma que o grupo está ciente do apoio dos fãs internacionais através do Wervese e outras plataformas de comunicação e confirma o intesse de conhecer o fandom ao redor do mundo. Até o momento, ARrC ainda não realizou uma turnê. Enquanto isso, o grupo se concentra em expandir sua discografia e em apresentações domésticas e em países vizinhos.
"Nosso grupo é composto por pessoas dos EUA, Vietnã, Brasil, Japão e Coreia. Isso nos ajuda a nos comunicar com fãs de várias partes do mundo, não apenas na Coreia, porque cada um de nós traz uma cultura, herança e idioma próprios. Tentamos incorporar tudo isso na nossa música também, para sermos únicos e para que os fãs globais entendam melhor o que queremos transmitir com nossas músicas e mensagens", disse Andy.
Os fãs de K-pop no Brasil já estão acostumados a ver grupos formados por integrantes nascidos em países asiáticos ou, ocasionalmente, nos Estados Unidos. No entanto, artistas com origem brasileira ou que tenham vivido parte da vida no Brasil ainda são raros — mas não inexistentes. Jibeen nasceu em São Paulo, onde recebeu o nome de Isaque Wilson Jibeen Lee. O maknae do ARrC viveu no país com a família até os oito anos de idade, antes de se mudar para a Coreia do Sul, em 2016.

(Divulgação / Mystic Story)
Embora tenha deixado o Brasil ainda na infância, Jibeen já revelou em diversas ocasiões que guarda boas memórias da sua vivência em terras brasileiras. Desde sua estreia como idol, o integrante tem feito questão de valorizar sua herança brasileira, trazendo-a cada vez mais para o centro de sua identidade artística. No showcase de debut, por exemplo, fez um breve discurso em português, gesto que se repetiu em outras apresentações e interações com fãs.
"Quando me mudei do Brasil para a Coreia, estava mais focado em me adaptar ao novo ambiente do que em entender a cultura brasileira. Mas depois do debut e de receber tanto apoio dos fãs brasileiros, meu desejo de me conectar mais profundamente com eles cresceu muito. Por isso, comecei a fazer covers de músicas brasileiras e a aprender português, para entender melhor a cultura. Isso virou uma nova fonte de inspiração para mim e me ajudou a mostrar uma versão mais autêntica de mim mesmo no palco. Pretendo continuar incorporando minhas raízes culturais no meu trabalho e me conectar cada vez mais com meus fãs do Brasil", disse Jibeen.
As escolhas de Jibeen não têm sido significativas apenas para os fãs — elas também têm ajudado o próprio artista a se reconectar com suas origens e a compreender mais profundamente a sua identidade multicultural. Com o apoio da Mystic Story e de seu irmão mais velho — que é professor de coreano para brasileiros — Jibeen também lançou um quadro especial no YouTube, chamado "Fala Jibeen e Disuki", em que compartilha com os fãs seu processo de reaprendizado da língua portuguesa, reforçando ainda mais a conexão com o público do Brasil.
Recentemente, o cantor surpreendeu os fãs com mais um "presente", um cover da música Dias de Luta, Dias de Glória do Charlie Brown Jr.. Ele tem se mostrado cada vez mais disposto em se reaproximar com sua cultura, uma atitude que tem empolado os fãs brasileiros, que podem se sentir mais conectados do que nunca com um artista de K-pop.
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