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[Opinião] Crise dos K-dramas: 2025 está sendo um ano de produções fracas e sem graça?

Conforme são mais buscadas, as séries coreanas têm demonstrado baixo desempenho


imagem de k-dramas de 2025
(Divulgação / Netflix)

Com a onda Hallyu a todo vapor, os K-dramas têm sido cada vez mais consumidos globalmente, trazendo obras marcantes nos mais diferentes gêneros e conceitos. Porém, conforme são mais exploradas, as séries coreanas têm demonstrado desempenho mais baixo tanto quando se fala sobre qualidade quanto no sentido de consumo dos espectadores, e uma série de fatores tem contribuído para isso.


Em fóruns criados em plataformas como Viki e Reddit, e debates que rolam no X, os espectadores discutem como os K-dramas tem se tornado “chatos” e “tediosos”. Tais aspectos têm sido observados cada vez mais frequentemente entre os consumidores, e um dos pontos de partida dessa conclusão é justamente a alta demanda das séries coreanas, assim as emissoras têm visto nessa procura uma oportunidade em entregar produções em grande volume. 


Essa movimentação das emissoras resulta em plots desinteressantes, mal desenvolvidos e histórias pouco cativantes presas em fórmulas e tendências. O ano de 2025 tem sido um grande exemplo para retratar a queda de qualidade em comparação com o aumento do volume  — e consequentemente a demanda — dos K-dramas. Entre os títulos lançados durante este ano, podemos citar Se A Vida Te Der Tangerinas como alguns dos poucos nomes notados e amados pela dramaland




Ainda, vale ressaltar que muito do interesse dos espectadores estão centrados em projetos já conhecidos, como a segunda temporada de Weak Hero Class e Resident Playbook, spin-off de Hospital Playlist — e futuramente a segunda temporada de All Of Us Are Dead


O pontapé da crise dos K-dramas


imagem de k-drama round 6

O crescimento do consumo dos K-dramas deve ser visto como algo positivo. O alcance de produções de sucesso vindas da Coreia do Sul como Squid Game e o filme vencedor do Oscar de 2021 Parasita somado ao interesse pelos grupos de K-pop intensificaram o interesse pela cultura midiática coreana, que acabou furando a bolha em escala global. 


Motivadas por essa atenção, as emissoras coreanas como tvN, SBS e KBS viram uma oportunidade de trazer um grande volume de novos títulos para alimentar os espectadores. Mas não só pensando nas produções em si, a estratégia está também na distribuição: a forma mais fácil de acessibilizar os K-dramas para o novo público é trazê-los para os streamings, e é aí que tudo começa a ser enxergado de uma forma não vista anteriormente.


De acordo com uma pesquisa feita pelo Korean Journal of Broadcasting and Communication Studies - KJBCS, os streamings se tornaram uma oportunidade para disseminar conteúdo, mas também explorar os mais diversos gêneros, distribuídos também por pequenas emissoras e contemplando pequenos atores. 



Serviços de streaming como Netflix, Disney Plus, Apple TV+ e Prime tem levado para suas plataformas tanto produções já antigas, em parceria com emissoras coreanas, quanto novos dramas originais. Em 2023, a Netflix investiu U$2,5 bilhões para impulsionar o entretenimento sul-coreano, o valor engloba filmes, séries e reality shows, e os outros streamings têm seguido pelo mesmo caminho. 


Nesse movimento surgiram dramas inesquecíveis como Uma Advogada Extraordinária e Round 6 na Netflix, Marry My Husband do Prime, Pachinko na Apple e Moving na Disney, que é a série coreana mais assistida da plataforma. O retorno dessas produções levaram as plataformas a continuarem alimentando o crescente interesse em produções coreanas. O ano sucessor também houve investimentos altos com a mesma finalidade, com planos parecidos para o ano seguinte: no início do ano a Netflix anunciou um plano de lançamentos para 2025 com mais de 20 produções, entre elas, Se A Vida Te Der Tangerinas.


A consequência do volume e agilidade para produzir novas séries impactou no mercado: plots repetitivos, pouco cativantes e que nem os melhores atores conseguem sustentar a trama, como exemplo temos The Trunk, com os excelentes Gong Yoo e Seo Hyun Jin compondo o elenco. De acordo com a Korean Times, essa crise tem afetado também as produções. 


O Korean Times ressalta um fator que tem intensificado a crise dos K-dramas é a competição das as plataformas digitais entre si e emissoras tradicionais para ter grandes nomes em suas produções. A disputa faz com que o orçamento destinado aos atores seja muito grande, tornando os dramas ainda mais caros, e de certa forma, investindo apenas em rostos conhecidos, estreitando o orçamento e dedicando pouco foco — financeiro e muitas vezes artístico — em outras necessidades que uma produção precisa. 



Mudança nos formatos tradicionais


Para além de todo investimento financeiro, com os K-dramas cada vez mais populares globalmente e streamings envolvidos e tomando frente, é perceptível que a essência das produções sofrem influências ocidentais. Um bom dorameiro sabe que dificilmente um drama coreano tem mais de uma temporada e quantidades infinitas de episódios.



Round 6, que inicialmente estava prevista para uma única temporada, tomou uma escala tão grande de sucesso que seu criador Hwang Dong-hyuk sofreu uma pressão para estender o K-drama para mais duas temporadas, consequentemente as temporadas sucessoras têm qualidade inferior à primeira. Outro exemplo é A Criatura de Gyeongseong, que entregou uma segunda temporada boa, mas ainda inferior à primeira — e até mesmo pouco necessária para a história que encerrou bem, mesmo que de forma instigante.


Com o investimento direcionado para novas temporadas, e o volume de produções sendo desenvolvidas também um novo fator: dramas e filmes coreanos no limbo, estagnados em pós-produção e sem distribuidora, prejudicando principalmente produções independentes e de baixo orçamento, consequentemente afetando atores emergentes. De acordo com o Conselho de Cinema Coreano, 130 filmes e séries estão concluídos, porém sem forma de serem exibidos — tanto nas grandes telas quanto via streaming. O reflexo disso tudo é a diminuição de orçamento e apoio governamental. 



A busca por outras produções


Tendo em vista todos os aspectos anteriores e a própria retração dos dorameiros quanto às produções, a solução tem sido buscar entretenimento em outras histórias, especialmente em dramas chineses, tailandeses e novelas turcas, que tem sido a sensação entre os consumidores. Os streamings tem abastecido suas plataformas para suprir a vontade do público, embora o consumo de K-dramas ainda seja alto e a procura ainda exista, dessa forma também vemos uma grande leva de antigos dramas chegando nos mais variados streamings.


Imagens de divulgação de reality show e BL 2gether
Divulgação Netflix / LINE TV

Além disso, vale lembrar que o público também tem grande interesse em reality shows coreanos, embora não tenham o mesmo formato e proposta que os dramas. Produções sobre relacionamentos como Solteiros Nunca Mais, Single's Inferno e a competição A Batalha dos 100 foram grandes destaques da Netflix.


Para além da ideia em si de estender K-dramas para lucrar ainda mais, essas estratégias tiram a essência que sempre fez parte das produções coreanas: boas histórias, inovadoras e originais que se resolvem em poucos episódios e com espaço para todos os públicos. 

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