Good News: Netflix lança filme de suspense inspirado em sequestro dos anos 70
- Juliana Palmeirim da Silva
- 14 de out.
- 5 min de leitura
O filme mistura suspense, sátira e tensão diplomática com um elenco estelar

(Divulgação / Netflix)
A Netflix estreia no dia 17 de outubro o aguardado filme sul-coreano Good News, uma mistura ousada de suspense político, sátira afiada e drama histórico baseado em um sequestro real ocorrido nos anos 1970. Com direção de Byun Sung-hyun, de Kill Boksoon (2023), o longa foi aclamado em festivais internacionais como o TIFF (Toronto) e o Busan International Film Festival, e promete impactar tanto pela tensão de seu enredo quanto pelo humor ácido que permeia suas cenas.
Na trama, um grupo de extremistas da facção Exército Vermelho Japonês sequestra um avião comercial logo após sua decolagem de Tóquio, exigindo que a aeronave seja levada até Pyongyang, na Coreia do Norte. No entanto, entraves diplomáticos e técnicos tornam essa exigência quase impossível. Entra em cena então Nobody, uma figura misteriosa e altamente influente, que traça um plano elaborado para desviar o avião até Seoul, simulando um pouso na Coreia do Norte.
Com 136 minutos de duração, Good News é ao mesmo tempo um thriller tenso, uma comédia política refinada e uma crítica às ineficiências burocráticas em tempos de crise. A Netflix não poupou esforços em termos de produção: Gimpo Airport foi completamente transformado em uma réplica do aeroporto de Pyongyang, e a atenção aos detalhes históricos é complementada por uma trilha sonora que mistura clássicos dos anos 70 com composições originais.
A história real que inspirou o filme
O filme é inspirado no sequestro real do voo da Japan Airlines em março de 1970, quando membros da extrema esquerda japonesa sequestraram uma aeronave e a levaram à Coreia do Norte. O caso real resultou em um delicado impasse internacional, e boa parte dos reféns só foi liberada após uma negociação tensa.
O roteiro de Good News, coescrito por Byun Sung-hyun e Lee Jin-seong, usa esse pano de fundo histórico como ponto de partida, mas recria os eventos com liberdade criativa, mesclando fatos e ficção. Nas palavras do diretor durante o TIFF: “Não queríamos apenas recriar a história, mas também explorar as reações absurdas das autoridades diante de uma crise. Muitas vezes, a comédia está no caos.”
Essa abordagem confere ao filme um tom único: há momentos genuinamente tensos, como a sequência do falso pouso em Pyongyang, e outros que flertam com o teatro do absurdo — como a tentativa de estacionar outro avião na pista para impedir a decolagem da aeronave sequestrada.
Sul Kyung-gu como "Nobody": O fantasma da inteligência
O papel principal de Nobody, um agente que prefere operar nas sombras, é interpretado pelo consagrado ator Sul Kyung-gu. Com uma carreira sólida no cinema sul-coreano, Sul é conhecido por filmes como Oasis (2002) e Hope (2013). Em Good News, ele interpreta um personagem lacônico, calculista e imprevisível — uma mistura de espião e estrategista político.

(Divulgação / Netflix)
Em entrevista à Variety, Sul comentou: “O Nobody é alguém que não existe oficialmente, mas tem o poder de parar o mundo. Ele é invisível, mas fundamental. Eu gostei muito de explorar esse silêncio carregado.”
Sua performance é uma âncora para o filme — comedida, mas cheia de tensão. Muitos críticos o apontaram como o "centro de gravidade moral e cômico" da história, com um timing impecável mesmo nos momentos mais absurdos.
Hong Kyung: O jovem tenente chamado à missão
Interpretando o tenente Seo Go-myung, o ator Hong Kyung representa o lado idealista da trama. Um jovem da Força Aérea, Seo é escolhido por seu conhecimento técnico para auxiliar Nobody no plano de redirecionamento do avião. A atuação de Hong traz frescor e energia, contrastando com a frieza calculada dos veteranos.

(Divulgação / Netflix)
Hong já era conhecido por seu trabalho premiado em Innocence (2020) e pela popularidade em séries como Weak Hero Class 1 (2022). Com apenas 29 anos, o ator se destaca por sua expressividade e intensidade dramática. Em conversa com a imprensa sul-coreana durante o Busan Film Festival, ele declarou: “Esse foi o papel mais desafiador da minha carreira. Meu personagem é um jovem entre monstros do poder. Ele precisa escolher entre seguir ordens ou fazer o que acredita ser certo.”
O arco do personagem de Seo funciona como fio condutor emocional para o espectador, que se vê envolvido na missão quase impossível de evitar um desastre diplomático e salvar inocentes.
Ryoo Seung-bum: Satirizando o poder
Como o diretor da KCIA (Agência Central de Inteligência da Coreia), o veterano Ryoo Seung-bum oferece uma performance explosiva. Conhecido por sua energia imprevisível e sua habilidade de dominar a tela, Ryoo interpreta Park Sang-hyeon, uma figura contraditória — ora agressivo, ora cínico, sempre manipulador.

(Divulgação / Netflix)
Ryoo é um nome consagrado no cinema alternativo e de ação da Coreia do Sul, com destaque em filmes como Crying Fist (2005) e The Berlin File (2013). Aqui, ele mergulha em uma sátira política onde a figura da autoridade é retratada como instável, narcisista e hilariamente ineficaz.
Na coletiva de imprensa do TIFF, o ator comentou: “Acho que o público vai se ver rindo do que deveria ser sério — e esse é o ponto. Em muitos lugares, os verdadeiros vilões vestem ternos e sentam atrás de mesas de reuniões.”
Direção de Byun Sung-hyun: Entre ‘Kill Boksoon’ e Kubrick
Com Good News, o diretor Byun Sung-hyun solidifica sua reputação como um dos nomes mais ousados do cinema coreano contemporâneo. Após o sucesso de Kill Boksoon (2023), ele retorna com um filme que desafia classificações: é suspense, é comédia, é drama histórico e também uma crítica à política internacional.
Com visuais frios e estilizados, cortes secos e uma trilha sonora que brinca com a nostalgia dos anos 70, Byun cria um ambiente que remete tanto a filmes como Dr. Fantástico (1964) quanto às produções políticas de Armando Iannucci, como The Death of Stalin (2017).
Segundo o diretor: “Se os políticos podem transformar crises em espetáculos, por que o cinema não pode fazer o mesmo, só que com consciência?”
Por que você vai querer ver "Good News"?

(Divulgação / Netflix)
Com uma narrativa que transita entre o absurdo e o realismo, Good News não é apenas um filme sobre um sequestro de avião — é um espelho satírico da geopolítica, das burocracias desajeitadas e das mentiras convenientes contadas em nome da ordem. A obra de Byun Sung-hyun convida o espectador a rir onde normalmente se choraria, e a questionar onde normalmente se aceitaria. Essa inversão de expectativas torna o filme uma experiência única e provocativa, que vai além do entretenimento e flerta com a crítica social afiada.
A força de Good News está em seu conjunto: um roteiro engenhoso, atuações densas e cômicas na medida certa, direção corajosa e um visual cuidadosamente planejado para capturar o clima dos anos 70 sem recorrer a clichês. Mesmo em seus momentos mais absurdos, o filme mantém a tensão viva, equilibrando perigo e ironia com rara precisão. É um retrato tragicômico de como o poder, muitas vezes, é exercido com mais ego do que razão — algo que ressoa com inquietante familiaridade nos dias de hoje.
Se você busca uma produção que fuja do óbvio, que ofereça ação sem descartar inteligência e que provoque riso sem perder a gravidade dos temas que aborda, Good News é a escolha certa. Prepare-se para uma história que vai te prender, provocar e, sim, arrancar algumas risadas nervosas no caminho.
Não perca a estreia mundial de Good News no dia 17 de outubro de 2025, exclusivamente na Netflix!









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