O filme vencedor do Blue Dragon 2024 chega aos cinemas brasileiros no em 2025 pela Sato Company


A aposta sul-coreana para o Oscar 2025 conta com astros como Jung Haein e Jung Woo Sung no elenco, sob direção de Kim Sung Su. Trata-se de um dos filmes históricos mais cativantes e chocantes lançados nos últimos tempos. Afinal, o longa aborda de forma impactante e brutal aquele que é considerado o pior dia na histórica democracia coreana. A trama de 12.12: O Dia (2023) gira em torno do dia 12 de dezembro de 1979, que foi marcado pelo Golpe de Estado de 12.12, arquitetado por um grupo privado não oficial de oficiais militares, sob liderança de Chun Doo Hwan.
Com personagens reais e algumas adaptações, o filme aborda os acontecimentos do fatídico dia com precisão, sem cair em uma narrativa lenta e cansativa. Em especial, ao imergir o público em um cenário de tensão política e conflito armado que resultou na morte de diversos soldados e, até mesmo, alguns comandantes e generais das forças armadas que se opuseram ao golpe.
Diferentemente da maioria das obras sobre ditadura que estamos acostumados a assistir, 12.12: O Dia (2023) nos apresenta uma perspectiva centrada nos militares que tentaram conter o golpe, e consequentemente, acabaram sendo assassinados e torturados.
O filme chega aos cinemas brasileiros neste ano pela Sato Company e promete agradar públicos diversos ao unir ação, política e história sul-coreana.
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O que aconteceu no dia 12.12?
A Coreia do Sul enfrentou uma série de governos autoritários desde a Ocupação Japonesa (1910-1945) até a invasão das tropas estadunidenses que visava conter o avanço dos soviéticos ao norte, ocasionando a Guerra da Coreia e sua posterior partilha em dois países. No entanto, poucos anos após o estabelecimento da democracia capitalista, os sul-coreanos enfrentam seu primeiro golpe militar interno, no qual Park Chung Hee assume o país através da imposição da Lei Marcial, resultando em um governo violento que perdurou por 18 anos.
O assassinato de Park Chung Hee após 18 anos de golpe é o estopim para a trama de 12.12: O Dia (2023), em especial, os dias que sucederam à morte, seu processo de investigação e a nova tentativa de insurreição militar em 1979. A trama retrata com fidelidade momentos marcantes do processo, que inclui a formação do grupo “Hanahoe”, composto por militares cujos interesses dialogavam diretamente com os planos golpistas do Comandante Chun Doo Hwan (Hwang Jung Min), que liderava o grupo.

Entretanto, o filme divide seu foco entre o Hanahoe de Chun Doo Hwan (Hwang Jung Min) no processo de planejamento e execução da insurreição, e a perspectiva dos militares contrários aos ideais antidemocráticos que eram disseminados pelo grupo. Tendo como protagonista o Comandante de Defesa da Capital Lee Tae Shin (Jung Woo Sung), que toma a frente da tentativa de contenção do golpe e se mostra resistente até os últimos minutos do filme.
O personagem de Jung Woo Sung, no entanto, é uma representação ficcional inspirada no General Jang Tae Wan, que ocupava a liderança do Comando de Defesa da Capital na época e foi uma figura central na tentativa de combate ao Hanahoe. Assim como no filme, o general foi preso e torturado em 1979 com a concretização da insurreição militar.

Lembrar para nunca mais esquecer
Diferentemente do caso brasileiro, o golpe militar de 1979 na Coreia do Sul foi uma surpresa para os civis, que se quer tiveram a possibilidade de reagir quando as tropas aliadas do Hanahoe invadiram as ruas de Seul, que presenciaram a violência em sua forma mais bruta enquanto militares assassinavam seus iguais na fatídica noite de 12 de dezembro. A capital presenciou uma noite que parecia durar 100 anos, afinal, houveram tiroteios até mesmo no QG das Forças Armadas, no qual apenas militares foram vítimas.
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Apesar de apelar para a ficção em alguns momentos, o filme não peca em representar e dar nome aos golpistas que mancharam a história da democracia sul-coreana, todos são devidamente nomeados do início ao fim, com direito a uma cena final com a foto real do Hanahoe após a concretização do golpe. Afinal, as consequências do estabelecimento da Quinta República da Coreia do Sul jamais deverão ser esquecidas.
O golpista Chun Doo Hwan e seus algozes governaram a Coreia do Sul de 1981 até 1987, sendo responsáveis diretos por diversas violações dos direitos humanos, dentre elas, o Massacre de Gwangju, que ceifou as vidas de diversos civis. A Quinta República teve seu fim somente em dezembro de 1987, com a primeira eleição de um presidente civil em após mais de uma década, consagrando uma constituição democrática e dando início a atual Sexta República.
"12.12: O Dia" e os movimentos democráticos de 2024 na Coreia do Sul
A tentativa de imposição da Lei Marcial por parte do ex-presidente Yoon Suk Yeol em dezembro de 2024 resultou em diversos protestos concentrados na capital, dos quais a população demonstrou forte oposição à nova tentativa de golpe militar. Na mesma época, 12.12: O Dia (2023) chegou novamente ao posto de filme mais assistido no país, uma conquista semelhante ao destaque de bilheteria no ano de lançamento. O fenômeno, no entanto, não se trata de uma coincidência quando consideramos o contexto do país, que se recusou a enfrentar a crueldade de uma nova ditadura militar após 37 anos de restabelecimento da democracia.
Assim como no Brasil com o lançamento de Ainda Estou Aqui (2024), a Coreia do Sul tem demonstrado esforços por parte do audiovisual na tentativa de retomar dramas do passado a fim de manter viva na memória as dores e o sofrimento de toda uma nação. Mesmo que criminosos como Chun Doo Hwan e Carlos Alberto Brilhante Ustra tenham vivido o bastante sem sofrer com as devidas consequências de seus atos, seus nomes estarão eternamente gravados como a escória nos porões da história da democracia.
Não deixem de conferir o filme representante da Coreia do Sul no Oscar 2025, que estará disponível nos cinemas brasileiros em 2025 pela Sato Company.
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