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"Sol de Inverno" é um retrato do amor e todas as suas formas

O longa-metragem japonês que foi considerado uma “joia perdida” no Festival de Cannes de 2024 finalmente chegou aos cinemas brasileiros pela Michiko Filmes.


Imagem de divulgação de "Sol de Inverno"
(Divulgação/Michiko Filmes)

O primeiro amor na infância é um assunto frequente diversos filmes no mundo inteiro, rendendo alguns grandes clássicos como Meu Primeiro Amor (1991) e ABC do Amor (2005), mas apesar de ser um tema que nunca sai de moda, não significa que todos os filmes tenham as mesmas abordagens e objetivos. No caso de Sol de Inverno (2024) do diretor Hiroshi Okuyama, o foco vai além do despertar de um amor puro de um garotinho tímido que sofre de gagueira por uma menina apaixonada por patinação artística.


Na trama tem como plano de fundo uma pequena ilha no interior do Japão cuja mudança das estações é o que guia as vidas dos moradores. Durante a primavera e o verão, o protagonista Takuya e os outros meninos praticam basebol, mas basta cair a primeira neve que os treinos mudam para o rinque de patinação onde meninos jogam hóquei no gelo e meninas, como a talentosa Sakura (Kiara Nakanishi), praticam patinação artística.


No entanto, os delicados movimentos de Sakura na pista de patinação parecem mais interessantes do que os treinos de hóquei para o tímido Takuya. O que surge como uma admiração se torna uma doce paixão que acaba chamando a atenção do técnico e ex-campeão Arakawa (Sosuke Ikematsu), que vê no amor de Takuya por Sakura um potencial para um novo talento da patinação. No entanto, o que acontece quando um menino decide praticar um esporte “de menina”?




Um romance que questiona padrões de gênero


A admiração de Takuya (Keitatsu Koshiyama) o leva não somente a observar Sakura durante os treinos de patinação (Kiara Nakanishi) mas a tentar replicar os movimentos dominados por ela após o fim das aulas no ringue de patinação.


O menino se quer chega a pedir auxílio a outras pessoas, muito menos ao treinador que guia a menina no esporte. No entanto, seus esforços para aprender patinação artística sozinho, mesmo que de forma nada polida, chamam a atenção do técnico de Sakura, que percebe a motivação de Takuya em impressionar a menina e se dispõe a treiná-lo gratuitamente no final da tarde após o fim dos treinos no ringue.



Deste modo, a jornada de Takuya na patinação artística acaba se tornando a motivação de Arakawa na retomada de sua paixão pelo esporte, mesmo que seus aprendizes sejam apenas crianças em uma pequenina cidade de interior, onde meninos na patinação artística não é tão comum. Enquanto se dedica aos treinos de hóquei no início da tarde, Takuya passa à se esforçar ainda mais na patinação até o momento em que se encontra preparado o suficiente para formar uma dupla com Sakura, sob recomendação do próprio treinador Arakawa.

Imagem de divulgação de "Sol de Inverno"
Divulgação/Michiko Filmes

Apesar de não concordar inicialmente com a ideia de formar uma dupla, em especial, por sentir ciúme da atenção que Takuya recebe do treinador, Sakura acaba cedendo e formando um laço de amizade com o menino e o treinador, que perpassa o interesse genuíno pelo esporte ao ponto de levá-los a um nível de companheirismo. A trama, por si só, tem uma fluidez tranquilizante ao nível de confortar o telespectador como um bom filme sobre crianças, afeto e talento.



Imagem de divulgação de "Sol de Inverno"
Divulgação/Michiko Filmes

O preconceito na infância


Apesar do companheirismo entre o trio, Sakura ainda nutre um sentimento de estranheza e ciúmes em relação à Takuya e o treinador, que, até certo ponto do filme, parece ser aliviado pelos momentos de diversão cultivados na jornada rumo ao primeiro torneio de dança no gelo que Takuya e Sakura participarão. Contudo, a infância não é somente sobre flores e alegria, e tudo parece ruir quando a menina descobre, por um acaso, que o treinador Arakawa possuí um relacionamento amoroso com outro homem.



A trama, por sua vez, não leva o público ocidental a perceber a relação homoafetiva entre o casal de adultos de início, bastam alguns gestos sutis para perceber que o companheiro de apartamento do treinador é, na verdade, seu namorado. O filme não conta com beijos entre o casal, mas ambos compartilham de um carinho que, aos olhos de Sakura, não estão ligados a uma simples amizade. O choque pela descoberta leva a menina a um estado de raiva motivado pelo sentimento de descriminação no qual foi educada a cultivar durante a vida.


É comum que, neste momento do longa-metragem, o público sinta raiva de Sakura por sua atitude descriminatória, mas é preciso perceber que crianças não nascem preconceituosas, apenas são para agirem desta forma, em especial, influenciadas pelos adultos ao seu redor. A situação fica ainda mais clara quando a menina abandona sua equipe no dia do torneio com o apoio de sua mãe, que, ao final, demite o treinador e chega a pedir que ele nunca mais chegue perto de Sakura.



Um final que não precisa de respostas


A questão de Sakura encerra os treinos de patinação de Takuya, que acaba retornando ao time de hóquei até o fim do inverno, ao mesmo tempo que, a relação amorosa do treinador entra em choque devido à frustração em relação ao fim de sua jornada na patinação naquela cidade.


Com uma série de questionamentos acerca da possibilidade de reaproximação de Sakura e Takuya, o filme nos leva a pensar nas consequências sofridas pelo treinador ao ser exposto por algo que se quer deveria ser motivo de ódio. Nos últimos dias do inverno, Arakawa se despede de Takuya e deixa a cidade, encerrando um ciclo junto ao fim da estação, ao cair da última neve.



Com o início da primavera e o surgimento das primeiras flores, Takuya retorna aos treinos de beisebol e sua rotina volta a ser o que era antes da chegada do inverno. No entanto, junto às árvores de cerejeira, a juventude floresce e leva a um novo reencontro entre o menino e a menina que um dia formaram um laço que parecia superar qualquer preconceito.


Confiram Sol de Inverno (2024) nos cinemas brasileiros e apreciem essa joia do Festival de Cannes que chegou ao Brasil no dia 16 de janeiro de 2025 pela Michiko Filmes.



Divulgação/Michiko Filmes
Divulgação/Michiko Filmes


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