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Em "ROCK-STAR", Stray Kids chuta a cara de boygroups e não abandona identidade no comeback

Grupo da JYP decide seguir o que já faz de melhor ao invés de se render às tendências fraudulentas de 2023


Stray Kids em "ROCK-STAR", seu mais recente comeback de 2023.
(JYP Entertainment/Divulgação)

É inexplicável a forma com que, da maneira autofágica que funciona, o K-pop consegue saturar qualquer tendência que encosta. Ao longo do ano, diversos boygroups exploraram o conceito Y2K numa tentativa de simular uma nostalgia da qual os próprios cantores não fizeram parte — resultando em vários mousses que se tornaram grandes piadas. Contudo, o Stray Kids em ROCK-STAR fez o contrário disso, em prol de um comeback no mínimo triunfal.


ROCK-STAR, o oitavo mini álbum coreano do Stray Kids, promete nada mais que o essencial; que já é de tirar o fôlego. Com oito canções no total, sendo seis delas inéditas, o boygroup foi capaz de entregar um projeto que segue a "receita de bolo" do octeto e que ainda assim é tão empolgante quanto o (até então insuperável) 5-STAR e o divertidíssimo MAXIDENT.



A cada lançamento, o Stray Kids reitera que se manter conceitualmente firme à sua proposta artística é o mais seguro, e também o que mais denota autenticidade. Enquanto isso, outros atos masculinos do K-pop continuam atirando para todos os lados na tentativa de achar seu próprio "X-factor" — o que o SKZ já possui.


O Stray Kids, em ROCK-STAR, quer fazer um testamento de liderança


É divertido notar como o Stray Kids gosta de iniciar álbuns com músicas que soam como chutes na porta. E isso não é diferente com MEGAVERSE, a canção que inicia ROCK-STAR: empolgante, forte e que te deixa biruta. A música, com sua letra que empodera o próprio grupo numa espécie de diss track melódica, tem um twist no refrão que poucos artistas poderiam fazer similar e usar de onomatopeias cantadas, que deixam tudo mais divertido. Como explicar a intro desse disco? Soa como um exército entoando um grito de guerra.


E a title track LALALALA é o que fortifica ainda mais essa sensação. É uma canção explosiva, contagiante e que não escapa do blueprint do Stray Kids — um electronic trap que se mescla com o pop, acompanhado por um MV de grande produção com momentos cômicos, coreografias e uma narrativa. No videoclipe, é notável que o grupo quer transmitir a mensagem de protagonismo, diversão e resiliência diante de grandes obstáculos.





Quando descobri que o Stray Kids é um grupo que se produz e compõe tudo, é claro que passei a enxergar os lançamentos dos cantores de outra forma. LALALALA é uma faixa que, numa visão macro, outros boygroups poderiam ter algo parecido; mas a forma com que o SKZ a executa tem uma identidade incomparável.


Devo dizer que são poucos os artistas que me convencem no uso do autotune, uma ferramenta que não fica esquisita na title track do ROCK-STAR. Além disso, a canção equilibra bem os raps intensos com uma vocal line que transmite sensibilidade nos seus tons caracteristicamente agudos; ela é soft, e se encaixa com as faixas-título dançantes em abundância do Stray Kids.


Se estava faltando algo "nostálgico" em ROCK-STAR, o Stray Kids resolve o problema


É claro que, para não ficar completamente descolados da trend, o Stray Kids inseriu BLIND SPOT na tracklist do álbum — uma faixa toda no estilo "rock" que o título do projeto, numa interpretação muito básica, sugere. O disco tem uma musiquinha "Y2K" para chamar de sua, com clara inspiração em bandas como Simple Plan e All Time Low, e o conceito nostálgico para por aí, sem exageros. BLIND SPOT é, inclusive, uma das minhas favoritas do comeback por inserir um estilo a mais na lista de canções.


E logo em seguida, COMFLEX retoma a sequência advinda de MEGAVERSE e LALALALA. A faixa urban dá ênfase a um lado mais ousado das músicas do Stray Kids, e também segue o estilo já conhecido do boygroup. Talvez seja a música mais esquecível na seleção da trackist, porém, é positivamente seguro inserir uma canção que mantenha o hype da title track após a "quebra" com BLIND SPOT.



Então, um lado mais sensível do Stray Kids aparece no ROCK-STAR com Cover Me, uma balada que deixa um ar mais sereno no comeback e mostra como o SKZ também pode fazer canções que fogem do noise music do qual são bastante conhecidos. A versatilidade é posta à prova outra vez, e Leave complementa a música anterior com um estilo que lembra OSTs de K-dramas — bebendo um pouco do estilo acústico (mesmo não sendo), e evidenciando vozes que, para os fãs mais ferrenhos, fazem emocionar.


Mas o Stray Kids não estava fugindo da trend?


Leave é uma boa forma de encerrar a sequência de músicas inéditas do ROCK-STAR, e o Stray Kids conclui a missão primorosa de fazer um disco identitário e empolgante. Após isso, há duas outras músicas: a versão coreana de Social Path, parceria com a artista japonesa LiSA, e a versão "rockeira" de LALALALA. Ambas não apresentam novidade ao release, mas são bons complementos à tracklist recém-ouvida pelo público.


"Café, mas o Stray Kids lançou um álbum com pop-rock? Vocês não disseram que eles estavam fugindo da trend Y2K e do que os demais artistas fazem?" — sim, o Stray Kids colocou um pouco de rock no (sem intensão de trocadilhos) ROCK-STAR, mas é óbvio o trabalho do boygroup em se banhar no gênero musical sem que fique forçado. O X da questão está exatamente na habilidade do conjunto de simular estilo de uma forma que soe natural e parte do caleidoscópio de músicas exploradas.




Apesar de acoplarem uma parcela do pop com guitarras em alta no K-pop hoje, o Stray Kids faz algo que está em falta na indústria: integrar gêneros que conversem com a proposta inicial de um grupo, e não mudar simplesmente porque "precisam" mudar. O Stray Kids é um grupo de músicas estrondosas que inflam as caixas de som, com letras fortes e uma produção primorosa do 3RACHA. O trunfo da originalidade de um artista no K-pop está, muitas vezes, na capacidade daquele nome de se reinventar sem abandonar suas origens; e ainda assim apresentando-se como alguém especial.



Enquanto exploram sutis camadas da moda atual, o Stray Kids em ROCK-STAR não abandona a originalidade e criatividade afloradas que me atraíram a eles. O comeback é um álbum seguro de si, e existe sentindo-se em segurança; ele não avança nem breca demais, e segue firme na proposta de mostrar um lado do SKZ de verdadeiros rockstars (talvez no sentido literal da palavra, mas principalmente ao impactar o coração dos Stays).


Não é preciso mudar por completo para que as pessoas te abracem: é melhor ser você e explorar novas partes de si ainda não descobertas, que é o que o Stray Kids faz. E por mais que eu não goste de tudo que eles façam, me sinto satisfeito em poder tirar o chapéu sempre que os oito membros me surpreendem com sua arte e talento.


Nota do álbum novo do Stray Kids, "ROCK-STAR".

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