A Copa do Mundo encheu as redes sociais de interações entre as duas comunidades e provou que ambas possuem comportamentos bem similares
(Reprodução/MSE e USA TODAY Sports)
A Copa do Mundo reúne pessoas de diferentes nichos, sendo elas apreciadoras de futebol ou não. Este é o momento mais marcante para os admiradores do esporte, que mostram o seu amor pelo futebol de diferentes formas. Esse comportamento não é muito distante dos fãs de K-Pop, pode não parecer mais ambos tem mais em comum do que aparentam.
O campeonato mundial deste ano foi comentado e aguardado ao longo dos meses e invadiu as redes sociais, com vídeos de torcedores eufóricos desde a venda do álbum oficial do evento, passando pelas escalações até o dia dos grandes jogos. A primeira aproximação entre futebol e K-Pop no campeonato aconteceu logo durante a abertura, com a apresentação de Jungkook do BTS.
Durante o campeonato, alguns jogadores conquistaram a comunidade fã de música sul-coreana, como é o caso de Richarlison do Brasil e Cho Gue Sung da Coreia do Sul. A comunidade resolveu dar uma cara mais K-popper ao evento e publicaram vídeos inusitados transformando fotos dos jogadores em photocards, com decorações dignas de idols. No geral, fãs de K-Pop e futebol apresentam atitudes bem similares, que podem passar despercebidos por ambos, mas durante 2022 ficou bem mais evidente.
Rivalidades e brigas
(Reprodução/Hype.my e UEFA)
Rivalidades estão presentes em vários segmentos da indústria do entretenimento e esportiva. Na verdade, é uma das bases, uma vez que a alta competitividade é um dos fatores que move fãs e torcedores a fazerem tanto por seu artista ou clube favorito. As brigas no meio da música e futebolístico tem muitas similaridades, com a maioria dos argumentos tendo critérios em comum.
Ambos os nichos brigam para defender ou mostrar o poder que o seu preferido tem em relação ao rival. Eles discutem por quem é o melhor time/grupo e idol/jogador e a quantidade de adeptos ao fandom/torcida. Além da quantidade de prêmios vencidos coletivamente e individualmente também é uma forma que usam para mensurar a grandiosidade do artista/time.
Preparam o gogó para os fanchants
(Reprodução/BBC e Tom Jenkins)
Para os que não estão acostumados com o termo, fanchant é quando fãs cantam palavras ou frases durante as apresentações para apoiar o artista. A ação é muito comum no K-Pop, e podem não perceber, mas ela se estende para o futebol. Assim como os K-poppers, os torcedores costumam cantar e criar músicas para o time e jogadores. Em diversos momentos durante as partidas de futebol é possível ouvir o coro em apoio ao time, bem similar aos fanchants do K-Pop. Confira abaixo os fanchants para Richarlison no Tottenham e para o TXT:
Sempre descontentes com empresas
(Reprodução/JTBC e Reuters)
Uma coisa que une fãs de K-Pop e de futebol é que ninguém está totalmente contente com o tratamento feito pelas empresas que administram todo o grupo. É comum encontrar reclamação de ambos os nichos em relação ao setor administrativo e são recorrentes as cobranças por mudanças.
Um paralelo interessante dessa aproximação seriam os torcedores do Barcelona em 2021 e o fã do T-ARA em 2012. No episódio do time catalão, naquele ano foi revelado que jogador argentino Lionel Messi estava oficialmente de saída do Barcelona após mais de 15 anos representando o clube. Na ocasião, apoiadores do astro se reuniram em frente ao escritórios do clube catalão como protesto, alguns inclusive, foram até os portões da casa do argentino.
Anos antes em 2012, um fã do T-ARA também estava revoltado com as decisões da MBK Entertainment, responsável por gerir o girlgroup. Em vídeo registrado pela emissora JTBC, o QUEEN — nome do fandom do grupo — jogou ovos no prédio da empresa devido a saída, na época inesperada, da membro Hwayoung.
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Dedicados para colecionar itens
(Reprodução)
Em 2022, os fãs de futebol chamaram atenção pela organizada em que se reuniram para completar o álbum de figurinhas da Copa. Grandes grupos de amigos e até desconhecidos trocavam os itens entre si de forma dedicada, alguns anunciavam venda e trocas nas redes sociais. Eles estavam ansiosos para tirar grandes nomes como Messi, Cristiano Ronaldo, Neymar e Mbappe, tanto que as reações quando os obtêm são de pura euforia.
No K-Pop, é comum isso acontecer com photocards, que assim como um pacote de figurinhas, são aleatórios e podem vir de qualquer membro ou versão. Para ter o item desejado, os k-poppers também costumam realizar trocas em grupos e redes sociais. Outro ponto em comum entre as duas comunidades são as reações bem próximas quando o objetivo é alcançado.
Fazem tudo pelos ídolos
(Reprodução/CBS e Portal Extra)
Qualquer um é capaz de loucuras por algo que gosta muito, e os dois nichos tem um longo histórico coletivo de loucuras pelos seus astros. Na indústria musical sul-coreana, os fandoms estão acostumados a gastarem dinheiro com álbuns, produtos relacionados ao artista e ingressos para shows. Muitos viajam para outros países para acompanhar concertos e acampar na fila para garantir um bom lugar.
O comportamento de acampar em filas para compra de ingressos ou garantir um bom lugar já foi alvo de muitos julgamentos por ser visto como infantil. Mas no futebol isso não é algo incomum, muitos torcedores já viraram a noite em filas para adquirir ingressos. Eles atravessam não só estados, mas países e continentes para acompanhar seus times do coração e estão dispostos a tudo. Por exemplo, os torcedores do Flamengo que venderam carros para acompanhar o rubro-negro no Mundial de Clubes no Qatar em 2019, a mesma situação se repetiu em 2021 na final da Libertadores no Uruguai.
Disputam para provar quem sofre mais
(Reprodução/Mnet e Mauro Vieira)
Durante a Copa do Mundo surgiram interações inusitadas entre as duas comunidades. Uma delas ocorreu quando um torcedor alegou que as novas torcedoras do Richarlison desistiriam dele quando tivessem que acordar cinco horas da manhã para vê-lo perder com o Tottenham. Mas os K-poppers fizeram questão de lembra-lo é que estão mais do que acostumados com um fuso-horário desfavorável para fãs brasileiros.
Com 12 horas de diferente entre Brasil e Coreia do Sul, quem acompanha o entretenimento sul-coreano tem que estar preparado para acordar bem cedo, assim como os torcedores de times estrangeiros. No K-Pop, é comum que um tapete vermelho comece as quatro da manhã, seguido de uma premiação que pode ter até seis horas de duração. Se no meio do futebol, eles acreditam que são os únicos a sofrer por acordar cedo e ver o time perder para o lanterna — time em último lugar — da tabela, precisam dar as mãos aos K-poppers que madrugam para assistir o artista favorito ser desrespeitado durante o MAMA.
Por que só um deles é aceito?
Atitudes similares, mas apenas um é socialmente aceito e não é alvo de críticas constantes. De um lado um produto consumido por um público majoritariamente feminino, do outro composto principalmente por homens, é fácil dizer qual não é visto como irracional. Ainda em 2022, a misógina em torno de conteúdos consumidos por um público, majoritariamente feminino, como é o caso do K-Pop, persiste. Uma vez que os fandoms são em sua maioria compostos por mulheres, a sociedade tende a infantilizar e encarar suas atitudes como imaturas e histéricas.
Porém, até que pontos as atitudes são diferentes das vistas no meio esportivo? Na verdade não são e possuem mais similaridades do que acreditam. Fãs de futebol também acampam em filas, viram noite por ingressos e fazem loucuras por seus astros. Atitudes vistas como irracionais quando realizadas por mulheres com seus ídolos pop. Vale lembrar que em certos casos, alguns torcedores ultrapassam os limites da rivalidade e discussões saudáveis refletidos nos casos de agressões nos estádios entre torcidas. Mas raramente são marcados como imaturos e diminuídos por seus comportamentos.
No geral, a maioria dos torcedores já passaram por alguma das situações citadas ao longo da lista. Caso seja um fã de futebol e chegou até aqui, talvez seja melhor sempre refletir sobre as próprias atitudes, antes de julgar jovens e adolescentes fãs não só de K-pop, mas de diversos outros conteúdos, porque não estão tão distantes como parece.
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