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[Crítica] "KPOPPED - Sem Fronteiras", mas só se você fechar um olho... E depois o outro

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    vics
  • há 24 horas
  • 8 min de leitura

Programa de batalhas da Apple TV+ estreia buscando reinventar grandes hits globais em versões K-pop, mas falha em entender o próprio conceito


PSY e Megan Thee Stallion no reality show "KPOPPED"
(Apple TV+/Divulgação)


O que torna o K-pop, K-pop? A sonoridade? Coreografia elaboradas e sincronismo? Os conceitos? Talvez apenas o fato de ser música pop cantada por sul-coreanos? Ou seria uma combinação de tudo? Tais perguntas permeiam o gênero musical desde o seu primórdio enquanto ele avança no gosto do público global, e aterrissa na Apple TV+ através do KPOPPED - Sem Fronteiras, um programa musical de batalhas que busca unir "o melhor de dois mundos".


Saiba mais a respeito do reality show apresentado por PSY e Megan Thee Stallion, e o que o Café achou dele:




Entendendo o KPOPPED


O conceito por trás do KPOPPED é simples: oito episódios de meia hora cada trabalham a ideia de dar uma nova cara para hits globais de artistas ocidentais, através de um remix K-pop, convidando grupos sul-coreanos para dar vida à essa nova roupagem ao lado de seus intérpretes originais.


Assim, "KPOPPED" torna-se um verbo, que em uma tradução totalmente livre significa que uma determinada música foi "K-popzada".


Por fim, com os grupos de K-pop separados em dois times (no que chama de "split") dividindo o palco com lendas da música pop, hip-hop, soul ou R&B, uma plateia ao vivo é a responsável por decidir com lightsticks quais das duas equipes (Dourado ou Roxo) fez sua apresentação "K-popzada" favorita. E quem ganha a batalha recebe... O prazer de ter ganhado o duelo.



Ao todo, 14 artistas globais e oito grupos de K-pop são reunidos em oito duelos. O Billie fica por conta de Savage e Lady Mermalade, de Megan Thee Stallion e Patti LaBelle, respectivamente, enquanto o ITZY se enfrenta para repaginar Wannabe e Say You'll Be There, das Spice Girls (representadas por Mel B e Emma). Já o Kep1er é responsável por Ice Ice Baby, do Vanilla Ice, e Tell It to My Heart, de Taylor Dayne.


O mix segue com a inclusão do grupo de j-pop JO1, com Let Me Blow Ya Mind, da EVE, e Joyride, da Kesha; do ATEEZ, com reimaginações para Can't Get You Out of My Head (Kylie Minogue) e Mi Gente (J Balvin); e das meninas do STAYC, que colaboram com Boy George e TLC para apresentar seus respectivos hits Karma Chameleon e Waterfalls.



(Apple TV+/Divulgação)

O programa fica completo com o KISS OF LIFE e suas versões para Kings & Queens, de Ava Max, e Hold My Hand, de Jess Glynne, e os duetos entre o BLACKSWAN e o Boyz II Men, com Motownphilly e End of the Road.


Com uma ideia tão simples assim, é de se imaginar que KPOPPED tenha tudo para ser um grande pedaço de entretenimento, correto? Correto. Mas a execução é terrivelmente errada.




Acionem o PROCON para este programa


Desde que foi anunciado, KPOPPED foi vendido sob a impressão de que Megan Thee Stallion e PSY seriam as figuras centrais, dividindo o palco para liderar um programa que não só apresentaria mais do K-pop para o mundo, mas traria ao público a oportunidade de ver hits atemporais reimaginados para o pop coreano. Mas logo torna-se evidente que nem Stallion nem PSY estarão presente para além da superficialidade.


A "cavalona" hitmaker do Texas e responsável pelo sucesso Savage participa do reality apenas no primeiro episódio como uma das artistas convidadas, aparecendo nos outros episódios em VTs aleatórios e breves narrações. Já PSY é um caso pior: o veterano, responsável pelo maior viral do K-pop que o mundo já presenciou, é apenas um totem em participações pré-gravadas.


(Apple TV+/Divulgação)

O intérprete de Gangnam Style aparece em dois momentos. O primeiro é no palco, ao lado de Megan, trocando elogios e fazendo uma breve introdução dos artistas sul-coreanos, e o segundo é um shot aéreo noturno no topo de um prédio, explicando para a audiência como funciona a votação. Fim.


Se você esperava por algo além disso, como ver a química que essas duas grandes personalidades dotadas de um magnético carisma poderiam ter juntas, lamento dizer que tal interação jamais chegará. Em seu lugar, temos a presença surpresa da atriz Soojeong Son, responsável por ser a apresentadora do KPOPPED em uma mediação que segue um roteiro insípido e hermético que não dá nenhum espaço para interações naturais.



Para piorar, é desconfortavelmente evidente que, na verdade, toda a competição é um espécie de "cavalo de Troia": um daqueles presentes que damos a alguém esperando que ele seja devolvido. Estamos todos reunidos aqui, neste não tão glorioso dia, para exaltar mais ainda as lendas ocidentais, enquanto os artistas sul-coreanos são usados mais como um meio de atingir isso.



Se KPOPPED fosse um produto ou serviço lançado em solo brasileiro, seria impossível não acionar o PROCON por tamanho propaganda enganosa.



O KPOPPED e seu K-pop para estadunidense ver


Se em algum momento KPOPPED tinha a intenção de explorar mais do K-pop, introduzindo para uma audiência global mais da música coreana, jamais saberemos. O programa tem um formato evidentemente "americanizado" com a música ocidental como protagonista. Aqui, o gênero coreano é apenas essa ideia meio distante e abstrata, o "objeto reluzente do momento" reservada para os jovens, como pontua Patti LaBelle ao comentar que seus netos amam a música sul-coreana.



Todo o formato é feito para vangloriar os hits globais e fazer o público relembrar essas músicas inesquecíveis enquanto tira um bom proveito do K-pop, que parece resumir-se ao perfeccionismo por trás de danças elaboradamente coreografadas e sincronizadas.


Até mesmo o tal "remix K-pop" é duvidoso. Se você conseguir identificar o que tem de K-pop na maioria dessas novas versões, terei que parabenizá-lo. Muitas das vezes as músicas apresentadas soam próximas demais das originais, quase como um cover acrescido por um eventual dance break ou um BPM mais ágil. Talvez seja por isso que nós, como público, tenhamos sido privados de uma espiada por trás do processo criativo que "K-popficou" essas faixas.


(Divulgação)
(Divulgação)



"Depois a gente junta"


Mas não só o entendimento do conceito deixa a desejar. KPOPPED falha por não conseguir balancear tudo que quer mostrar em uma duração tão curta.


Meia hora é insuficiente para explorar todo o processo por trás de uma ideia tão interessante e ambiciosa, acabando por resultar em episódios bagunçados, superficiais e descompassados.



A exemplo, todo o processo para fazer as apresentações aconteceram são resumidos em uma edição que raramente ultrapassa os cinco minutos. Tudo é pincelado nessa nem meia dúzia de minutos, criando uma sensação de que a produção tem pouco interesse no processo e só quer chegar logo no resultado final.


Até mesmo o tenebroso feedback que sucede as colaborações tem mais tempo de tela do que os bastidores. E esse, por sua vez, é um pesadelo surrealista que merece seu próprio parágrafo, por tornar dolorosamente evidente o tanto que o programa é carregado por um roteiro que precisa ser seguido a risca. O resultado é um momento de interação completamente pasteurizado para extrair apenas uma bajulação superficial, em perguntas propositalmente direcionadas para tal.



Por exemplo, ao invés de Soojeong Son questionar "fulano, o que você achou da apresentação?", proporcionando a possibilidade de interações mais naturais e genuínas, a apresentadora pergunta algo como "o quão INCRÍVEL foi essa apresentação maravilhosa que seus olhos acabaram de ser agraciados?". Se a ideia por trás disso era passar a mesma ideia de perfeccionismo pelo quão grupos de K-pop são conhecidos por ter, talvez as pessoas envolvidas com este reality precisam assistir um ou dois episódios de um BOYS PLANET da vida.


Há tantos pontos (negativos) para pontuar que é fácil ficar perdido.




Colaborações duvidosas ao longo do reality show


Em meio a toda essa jornada de trinta minutos, chegamos na questão das parcerias que não são "tão parceria" assim. Enquanto é evidente que os grupos coreanos tenham tido um tempo prévio e hábil para se familiarizar com as novas versões e ensaiarem suas coreografias, os intérpretes originais são jogados nesse meio com apenas 48h para se ajustarem. E o que poderia dar errado, não é mesmo?


Uma das curiosidades mais chocantes de KPOPPED é que parece que só ali, na sala de prática em Seul, os estrangeiros tem a oportunidade de ouvir pela primeira vez a versão final do remix. E com tão pouco tempo para ensaiar, e sendo eles quem são, é muito mais cômodo jogar fora uma boa parte do esforço dos idols até ali para acomodar aquilo que é melhor ou mais fácil para eles.


(Divulgação)

É claro que nem todos os artistas convidados se portam assim, mas para alguns é um tanto evidente o desinteresse ou até mesmo o desgosto pela participação. Mas em uma edição tão pouco trabalhada, de uma forma mágica, tudo dá certo no final e a apresentação ocorre sem nenhum problema, resultando em um chuva de elogios. Talvez seja por isso que eles são considerados artistas tão reverenciados.



Mas nem tudo é ruim, claro. Até porque KPOPPED convida pessoas como Kylie Minogue, que genuinamente parece não só animada com toda a parceria, como também disposta a se adaptar ao grupo ao invés de forçá-los a se adaptarem a ela. Ainda, a cantora australiana mostra-se imersa o suficiente na experiência para pedir um nome para a sua unit e até mesmo arriscar um ou dois annyeonghaseyo e gamsahamnida.




Quem sabe, faz K-pop


Aproveitando o gancho, é inegável que mesmo em meio a uma jornada tão convulsionada, KPOPPED tenha os seus momentos de glória. E um deles é justamente o episódio da nossa Deusa do Pop, Kylie.


(Divulgação)
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O quinto episódio do programa é, disparado, o melhor e o ponto mais alto das batalhas. E não (só) por conta de Minogue, mas pela identidade que o ATEEZ traz para o palco. Ao lado de dois outros grupos, o time por trás da recente Lemon Drop entende perfeitamente o conceito que move o programa, imprimindo nas faixas não só suas respectivas identidades, mas também o que vem a ser uma sonoridade mais puxada para o K-pop.


Para completar, eles fazem o que quase nenhum outro grupo fez: introduzir na letra versos em coreanos, "K-popficando" ainda mais seus duelos, resultando em duas apresentações eletrizantes e sensuais de suas próprias maneiras. O boygroup cumpre o que promete e tem tudo para dar uma novo sopro de vida para Can't Get You Out of My Head e Mi Gente, já inesquecíveis.




No episódio quatro, o JO1 é uma interessante adição ao quadro de artistas "conterrâneos". Primeiro por serem um grupo de J-pop em um programa que busca surfar na Onda Coreana, o famoso Hallyu. E segundo também por serem do J-pop, que traz uma sonoridade completamente diferente do seu primo distante.


Talvez por serem por si só uma incongruência tão grande no meio de artistas coreanos, que o time de 11 membros formado através do PRODUCE 101 JAPAN se destaque em suas repaginadas, trazendo para a audiência versões que realmente se aproximam à sonoridade pop japonesa.


(Divulgação)

Já no sexto episódio, o STAYC também é responsável por um dos pontos altos do KPOPPED, com apresentações vocais que fazem jus aos seus talentos e soam um pouco mais próximas do pop coreano do que a maior parte das outras faixas. E enquanto o ATEEZ introduz o coreano através de seus integrantes, as cantoras responsáveis por RUN2U e Teddy Bear desafiam Boy George a arriscar algumas palavras em hangul.


Outro detalhe legal, e possivelmente o único que realmente soa como uma homenagem ao K-pop, é a presença dos icônicos lightsticks, que aqui ainda são incorporados como o sistema de votação para determinar os vencedores.




KPOPPED, mas nem tanto...


Ao fim de KPOPPED, é difícil saber qual exatamente era a ideia que a produção tinha ao elaborar o programa, e qual resultado esperavam atingir. Ao fim do último episódio, que termina sem pompas, a impressão mais duradoura é a de um reality sem direcionamento e sem alma.


Por mais que todo o conceito seja interessante e projeto seja ambicioso (o pesadelo que deve ter sido gerir todas essas agendas...), KPOPPED falha em torna-se relevante ou memorável, sendo vítima da própria construção e montagem. Me espantaria muito descobrir que uma segunda temporada está a caminho.


(Divulgação)
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O lado bom de tudo vai ser poder ouvir oficialmente as versões "K-popzadas" desses hits em qualquer plataforma digital, a serem liberadas logo mais. E não sei vocês, mas mal vejo a hora de poder garantir um PAK, um RAK e um CAK para Can't Get You Out of My Head (KPOPPED ver.) aqui em casa.


Você já viu o programa? Confira mais notícias do mundo do K-pop aqui no Café com Kimchi!

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