Álbum de onze faixas contém altos e baixos, mas unit do NCT consegue fortalecer crescimento
(SM Entertainment/Reprodução)
Dentro do K-Pop, um grupo se torna duradouro caso ele passe por uma progressão de conceito, e amadureça musicalmente. E em quase cinco anos de existência, o NCT Dream evidentemente cresceu tanto em imagem quanto em altura; eles não são mais os mesmos de Chewing Gum. Contudo, mesmo que Glitch Mode seja um comeback forte e com músicas interessantes, há alguns fatores que fazem o álbum não alcançar a nota máxima.
O disco lançado no dia 28 de março contém 11 faixas, que intercalam o já conhecido bubblegum pop do NCT Dream com tentativas curiosas de mudança. Nesse sentido, tais "mudanças" tem a ver com o fato de que a SM Entertainment, neste comeback, cautelosamente aproxima o Dream das demais units do projeto com mais de 20 rapazes — uma sonoridade mais parecida com seus contemporâneos.
O álbum começa com as estrondosas Fire Alarm e Glitch Mode (faixa-título), promessas de um trabalho totalmente upbeat e que lembram um pouco alguns lançamentos do NCT 127, por exemplo, como Sticker e Kick It. E sobre a própria música Glitch Mode, é curioso o fato dela progredir conforme o número de ouvidas: o blueprint do NCT Dream de cantar em uníssono no refrão aparece aqui. É uma title divertida e que não cansa, complementada com um bridge banhado no pop rock.
Em seguida, a música Arcade não apresenta nenhuma diferença em relação às anteriores, e a mudança palpável aparece a partir de It's Yours. A quarta canção de Glitch Mode trás uma sensação de nostalgia em relação aos trabalho passados do NCT Dream, e fica evidente nela que o grupo detém dos vocais mais doces e "juvenis" entre as units (grandes créditos para o integrante Haechan, inclusive). Com isso, Teddy Bear aparece como uma das melhores, senão a melhor, música do comeback: a SM mais uma vez dá aula de produção e sobre como usar bem das influências do r&b. Ainda, vale ressaltar que Mark está presente na composição de algumas faixas, e o cantor continua como a força motriz de todo o NCT desde seu debut.
E Teddy Bear é tão diferente na tracklist que salta aos ouvidos. Facilmente seria uma música do SHINee, que são mestres em ter trabalhos neste estilo. Para completar a primeira parte do disco, Replay dá uma complementada na vibe 90s que o comeback pretende entregar (mas que fica, na maior parte do tempo, mais nas roupas dos meninos do que nas músicas).
Segunda parte do álbum Glitch Mode dá escorregada, mas termina com vontade de "quero mais"
Passadas as seis primeiras músicas de Glitch Mode, a segunda metade do comeback é um tanto quanto questionável. Se o começo do álbum pode ser visto como o início de uma montanha-russa antes da descida, as últimas cinco canções são altos e baixos no projeto inédito do Dream.
Saturday Drip é a música mais esquecível do CD, e este ponto será retomado mais adiante na resenha. Em contrapartida, Better Than Gold é animada e completamente influenciada pelo soul e funk americano, algo que os produtores da SM também são bons em fazer. Entretanto, entra Drive logo depois e o carrinho da montanha-russa permanece no platô outra vez até o final de Never Goodbye. Ambas são músicas que poderiam estar encaixadas em outro lugar da tracklist.
Rewind, para concluir Glitch Mode, consegue unir a miscelânea de alturas e ritmos com certo respiro: não é inovadora, mas cumpre o trabalho de terminar o álbum. Nota que o comeback do NCT Dream é como um gráfico que ascende ao topo do início ao meio, e que depois treme na base para se manter acima? Felizmente o boygroup consegue finalizá-lo com estabilidade (e uma leve vontade de uma versão deluxe, parecida com as primeiras seis faixas).
O principal conflito que o autor da resenha encontrou no álbum foi, justamente, a vontade da SM de querer transformar o NCT Dream em todos os outros grupos da geração. Fire Alarm, Arcade e Saturday Drip são pedras no sapatos desse comeback, que combinariam com outro boygroup, e não o Dream. Mesmo que em menor quantidade se comparadas às outras canções reluzentes do CD, as três músicas apontadas são exemplos do que a SM Entertainment não precisa repetir.
(SM Entertainment/Reprodução)
Alguns podem dizer que a própria Glitch Mode é parecida com as canções lançadas por outros grupos recentemente — a mistura de tecno com pop-rock é a tendência do K-Pop para 2022. Porém, ela é a faixa promocional do projeto, e foi feita para vender. A discografia de um grupo vai muito além do que se torna um videoclipe para vendas, e engloba todas as b-sides e músicas que serão lembradas nos anos seguintes. Não é ideal que o NCT Dream, com uma lista de canções tão ímpar se comparado ao 127 e o NCT U, entre na mistura duvidosa que grupos masculinos da atual geração estão fazendo em outras empresas.
O Dream não precisa seguir as tendências de outros boygroups. Ele deve ser o NCT Dream, e ponto final, sem tirar nem por. Os membros formam uma aliança harmoniosa, e sinceramente, seria um desperdício por parte da SM se os integrantes perdessem toda a essência "jovem" que demarca a identidade da unit. Mesmo crescidos, eles ainda são aqueles que carregam a essência dreamy de não envelhecer e se tornar igual a todos os outros.
Glitch Mode é um comeback com pinceladas do que o grupo pode fazer a seguir. Caso a SM foque nos pontos fortes que já é detentora, o NCT Dream pode se dar melhor do que se fosse pelo caminho oposto de imitar aqueles que não devem ser imitados. No K-Pop, há exemplos péssimos a serem seguidos atualmente, e um experimentalismo exacerbado não é a cara dos Dreamies.
A progressão e amadurecimento citados no início da review devem ser feitos com cuidado, e Lee Soo-man precisa ficar esperto.
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