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"Amêndoas", livro da autora Sohn Won-pyung, retrata emoções onde você não pode encontrá-las

Atualizado: 19 de out. de 2023

Obra coreana, publicada no Brasil pela Editora Rocco, conta história sensível sobre garoto que não pode expressar sentimentos


Capa do livro "Amêndoas", publicado no Brasil pela Rocco (Reprodução)

Quando se tem originalidade, personagens bem elaborados e cheios de personalidade, se tem tudo - ou quase tudo. Uma trama com desenvolvimento lento, esperançoso, drama equilibrado e realista são características que definem bem o que é a história de Yunjae, protagonista de Amêndoas, obra da autora coreana Sohn Won-pyung.


De cara, o livro que chegou ao Brasil pela Editora Rocco traz curiosidade por seu ponto principal partir de uma condição pouco falada, e continua sendo cativante pela forma como a história se desenrola. Por ter uma essência única, Amêndoas também encantou Suga e RM do BTS, recebendo ainda mais a atenção entre os bookstans K-poppers.




Ainda bebê, Yunjae não esboçava muitas reações, característica que preocupava sua mãe. Ela percebia que seu filho era diferente de outras pessoas com o passar do seu desenvolvimento. Por fim, foi atrás de desvendar o que tornava sua criança tão única, e aí veio o diagnóstico: alexitimia, o mau desenvolvimento das amígdalas, que impede a distinção e expressão de sentimentos. Por isso, por muito tempo o garoto foi visto como insensível e por toda sua vida teve dificuldades para se adaptar com as pessoas, a realidade e o mundo ao seu redor.


Sua mãe e sua avó fazem de tudo para tornar sua vida um pouco mais fácil, tentavam explicar a melhor forma de reagir aos sentimentos alheios e como reagir em certas situações. Quando Yunjae enfrenta uma situação desafiadora, ele precisa lidar sozinho com várias questões, entre elas o luto. A partir daí, ele precisa reaprender tudo que lhe foi ensinado, sozinho sair de sua zona de conforto e alcançar um equilíbrio entre si próprio e o mundo externo.


"Eu tenho amêndoas em mim, assim como você, assim como quem você ama e odeia. Mas ninguém consegue senti-las. Você só sabe que elas existem."



O livro condecorado pelo Prêmio Changbi de Ficção Para Jovens Adultos é muito rotineiro e até certo ponto é leve, e ressalta como Yunjae tentava se adaptar, ou melhor, passar despercebido em seu dia-a-dia, em um cenário comum para a maioria das pessoas, mas portando consigo uma condição complicada como a sua. Porém, o mundo ganha outra percepção quando o menino lida com os sentimentos mais intensos e começa a conhecer outras pessoas. Tudo é muito tenso quando não se sabe a forma certa de reagir a certos acontecimentos, principalmente quando se está sob julgamento o tempo todo.


Sob o olhar de Yunjae, que narra todas as páginas, o mundo se torna diferente, pois ele quer que seja, e se esforça para isso. O garoto descobre o que é a amizade e o romance, que não passam em branco mesmo com suas amígdalas mal desenvolvidas. O que mais impressiona, é que embora seja cercado de esperança e expectativas, em nenhum momento Amêndoas segue com vestígios de cura, mas transpassa um olhar da vida como ela é, cheia de dificuldades, descobertas, expectativas - e está tudo bem ser assim.



"Não existe uma pessoa que não possa ser salva. Só existem pessoas que desistem de tentar salvar os outros."

O ponto forte da história é o equilíbrio entre o que é realista e a imaginação - e para mim, é onde ela peca também. Porém, ainda falando desse aspecto de forma positiva, Amêndoas se torna muito cativante quando outras figuras entram nas páginas, como Gon, um garoto problemático, Dora, a mocinha sonhadora, Dr. Shim, o padeiro e seu amigo Professor Yun. Todos eles foram essenciais para mudar a vida de Yunjae, e mesmo sendo importantes para esse desenvolvimento, a obra ainda continua bastante pessoal e totalmente voltada para o protagonista e como viver sob a sua condição, mas as outras pessoas complementam bem com suas experiências pessoais.


O contexto social onde Yunjae estava inserido por todos os seus anos desde o diagnóstico, passou a ser visto de forma diferente por ele mesmo, porque ninguém pode o ensinar a distinguir emoções ou como senti-las, por mais que tentassem. Uma característica forte na história, é sentir frustração por tudo que o rapaz não conseguia expressar, e até mesmo saber que deveria expressar.


Alexitimia, a condição que conduz a história, já é algo completamente novo para muitos leitores, é pouco palpável e por mais que cause empatia, o leitor se vê distante dos fatos, trazendo um conflito de emoções, e de certa forma, sem enxergar como tudo pode se tornar diferente disso. A autora apelou para a necessidade de ter o fim triunfal e aliviador que todos esperam, embora nem toda obra tenha obrigação de ter esse papel. Não é sobre escolher um outro fim, mas refletir a ideia de que certos caminhos são feitos para serem tomados pela simplicidade, e é ali que mora a essência da história, um final feliz, nem sempre quer dizer ser “feliz” como a gente quer e espera.



Alexitimia, o distúrbio retratado em "Amêndoas", existe?


A alexitimia não é uma invenção de Won-pyung para compor sua obra, e sim, um distúrbio que realmente existe. Quem tem essa condição, não consegue distinguir ou expressar sentimentos, assim como acontece com Yunjae.


Porém, para os médicos, existem várias teorias acerca do que provoca este distúrbio. De acordo com o ITAD (Instituto de Apoio e Desenvolvimento), existem teorias que envolvem o psíquico, situações sócio-culturais e neurológicas, sendo essa última, a razão apresentada pela autora do livro, em que as amígdalas estão ligadas ao hipocampo responsável por memórias de boas e más sensações, portanto quem não as tem bem desenvolvidas, não consegue fazer distinção ou expressar sentimentos.


Ainda, os estudos sobre alexitimia explicam que a tendência de seus portadores é de se isolar, evitar amizades e estar em grupos. E o ideal para quem a porta, é sempre fazer acampamento psicológico para ter melhores condições de vida.



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