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Há 14 anos, protesto iniciado por fãs de K-Pop era notícia na Coreia e no mundo; conheça o movimento

"Meninas adolescentes" iniciaram manifestações contra a importação de carne bovina dos EUA na Coreia; veja curiosidades ao fim da matéria

(Google/ Wikipedia)

Em 2008, o presidente sul-coreano Lee Myung-Bak pôs fim ao bloqueio na importação de carne bovina americana na Coreia do Sul. A reentrada da carne no país ocorreu após uma negociação com o presidente dos Estados Unidos George W. Bush e sem nenhuma consulta ao povo — o que gerou protestos conhecidos como "anti-beef". O produto estava suspenso no país há 5 anos, depois da descoberta de contaminação pela doença da vaca louca na carne.


Quem alavancou e protagonizou os movimentos? Foram meninas jovens fãs de K-pop. Para Clay Shirky, teórico da Comunicação, o destaque se deve principalmente às Cassiopeias, fãs do grupo TVXQ. Em 2008, elas eram consideradas pelo Guinness Book (Livro dos Recordes) o maior fandom do mundo. Com tamanha expressividade e forte presença online, o fã-clube do grupo da SM Ent. se organizou e iniciou protestos pacíficos nas ruas.


O ápice dos protestos foi em maio de 2008, com mais de 100 mil participantes. Com a popularidade comprometida, o presidente Lee pediu à Polícia para dissolver os protestos. A polícia atacou brutalmente os manifestantes, que incluíam as meninas adolescentes. A ação cruel dos policiais piorou ainda mais a imagem do governo, gerando greves e protestos generalizados. Enfim, sem saída, o presidente recuou.


Lee se desculpou na TV pela forma como os protestos foram reprimidos e por não consultar o povo coreano ao permitir a reentrada da carne dos EUA no país. Ele obrigou seu ministério a se demitir e criou restrições adicionais à carne americana importada, e ainda culpou o seu entusiasmo para governar. Os protestos foram os maiores da Coreia desde 1987, quando a reivindicação do povo era a volta das eleições democráticas.


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A onda de manifestações iniciada pelas Cassiopeias é só um dos muitos exemplos de ativismo presente nos fandoms de K-pop. Em anos mais recentes, este ativismo é cada vez mais digital, com ações pontuais que "saem" do mundo on-line em prol de promover um pensamento social. Conheça mais dos protestos de 2008 através de 4 curiosidades.


1. Candle-Light Girl


Um símbolo dos protestos contra a reabertura do mercado para a carne americana foi a Candle-Light Girl, a "Garota da Vela" em tradução livre, ou "Menina Vela". A espécie de mascote ajuda a visualizar bem o perfil das pioneiras do movimento: meninas adolescentes, muitas até jovens demais para votar, que não estavam ligadas a nenhum grupo político e nem tinham um histórico de ativismo. Eram apenas meninas segurando uma vela.


(Google / Alamy)

2. Vigílias


O modelo de protesto escolhido foi o da vigília: as manifestantes ocupavam um lugar e permaneciam ali com as velas acesas. Um desses lugares foi o Cheonggyecheon Park. Pelo perfil das participantes (meninas jovens) e a preferência por locais family friendly por assim dizer, muitas famílias inteiras participaram dos atos, incluindo crianças pequenas e bebês. Foi a primeira vez que aconteceu algo assim na Coreia.


3. Barricadas


Para proteger a segurança do presidente Lee durante os protestos, foi levantada uma barricada de containers de navio para impedir que os manifestantes chegassem ao seu escritório. Os containers eram revestido com óleo para impedir que os protestantes os escalassem, e eram cheios com sacos de areia para impedir que fossem derrubados.

(The Gainesville Sun)

4. Lee Wan Yong


Com as manifestações, o índice de aprovação do presidente Lee despencou de 75% para 20% em pouquíssimo tempo. Ele então chegou a ser chamado de Lee Wan Yong, o primeiro-ministro japonês que, em 1910, assinou o Tratado de Anexação Japão-Coreia e iniciou a ocupação japonesa no país. Wan Yong é tido como o maior traidor da história da Coreia.


O presidente Lee Myung-Bak conseguiu continuar no mandato mesmo após os protestos. Ele foi preso em 2018, porém, acusado de corrupção. Sua sentença é de 15 anos.


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