Em novo vídeo, SM Entertainment reitera preocupação com conflito de interesses e repudia a tentativa da HYBE de dominar o K-pop
(Reprodução / SM Ent. / HYBE)
Gigante do entretenimento sul-coreano e pioneira do K-pop, a SM Entertainment divulgou na noite desse domingo (19) um vídeo em que se posiciona contra a aquisição de ações da sua empresa pela HYBE. No vídeo de 15 minutos, o CFO da SM Ent. Cheol Hyuk Jang revela que, enquanto a empresa se preparava para lançar um mega projeto, o fundador e maior acionista da SM, Lee Soo-Man, vendeu suas ações para uma agência concorrente, e uma "tomada de poder hostil" se iniciou.
Segundo o executivo, essa tomada ignora os esforços de mais de 600 funcionários da SM que sonhavam em ser a empresa de K-pop número um do mundo, e também fere os valores que o conglomerado tem defendido para os fãs e artistas. O vídeo conta em detalhes e através de gráficos a posição da SM sobre a situação. Confira abaixo os principais argumentos da SM para se apresentar contra o movimento corporativo da HYBE.
Conflito de interesses
Em 9 de fevereiro a HYBE se tornou a maior acionista da SM Ent., após comprar 14,8% da ações empresa que estavam sob a posse do seu fundador, o produtor Lee Soo-Man. Posteriormente, a HYBE revelou interesse em adquirir cerca de 40% das ações totais da SM em março, quando as ações entrarão em oferta pública. Segundo o CFO da SM, essa movimentação configura uma hostil tentativa de tomada de poder. A HYBE teria garantido independência à diretoria da SM, mas essa declaração foi considerada uma "promessa vazia e difícil de cumprir."
O mais provável é que a HYBE use sua posição de maior acionista para exercer controle sobre o quadro de diretores. Essa movimentação também é descrita como um empecilho para a SM se desvincular do passado "com um certo acionista", referindo-se a Lee Soo-Man e os supostos escândalos de corrupção do que vieram a público na última semana. Lee foi acusado de evasão e fraude fiscal, manipulação e enriquecimento ilícito. De acordo com a Dispatch, os lucros ilegais de Soo-Man chegaram a 570 milhões de dólares.
Partindo desse pressuposto, o CFO questiona o fato da HYBE não exigir da SM evidências de integridade durante a compra das ações (M&A process). A HYBE teria que fazer um empréstimo de curto prazo de 1 trilhão de wons para financiar a compra, e um empréstimo desse valor deveria ser discutido entre os executivos da HYBE. Assim, é um mistério como a empresa resolveu seguir com essa transação caríssima sem apresentar evidências de legalidade da parte da SM. Esta não é uma prática comum em negócios dessa magnitude, e o CFO da SM chama o processo de "longe de ser racional."
No primeiro gráfico apresentado no vídeo (acima), o CFO destaca que a gerência da SM passa a ser de um concorrente direto da empresa, o que implica conflito de interesses. Para além do prejuízo aos demais acionistas (queda no valor das ações e a não-proteção dos seus interesses), os efeitos mais tangíveis são a queda drástica nos lançamentos de artistas da SM — já que a HYBE já está saturada de idols, os artistas da SM não seriam tratados como prioridade —, a mudança de plataformas e a perda de novas oportunidades, tais como a SM 3.0, que deve passar para as mãos da antiga Big Hit.
Bom para quem?
Após a aquisição de parte da SM, a HYBE teria divulgado que aposta em fortes estratégias de sinergia para os negócios, termo que significa que as duas empresas serão mais fortes juntas
do que separadas. Porém, a SM alega que os benefícios só serão vistos para os acionistas da HYBE. No gráfico a seguir, o representante da SM mostra como a aquisição só traz malefícios ao grupo sob um ponto de vista técnico, ou não altera em nada a situação da SM.
Em suma, as plataformas da SM e da HYBE não são compatíveis e a SM seria forçada a migrar para o Weverse. Além disso, a HYBE usa um sistema separado/terceirizado para monetizar o IP das suas labels, já a SM possui um sistema próprio. Com a aquisição das ações, a HYBE pode "aproveitar" o sistema da SM — um caso em que a HYBE sai ganhando e a situação da SM não muda em nada. A HYBE também comprou de Soo-Man as ações dos times de marketing SM Brand e DREAM TEAM, cujo único cliente é a SM. Agora, o lucro desses times passa a pertencer a HYBE.
Declínio do K-pop
A SM alega que a compra das suas ações pela HYBE criaria um monopólio capaz de levar ao declínio do K-pop. As duas empresas são as maiores no ramo do entretenimento sul-coreano e, juntas, elas dominam mais de 66% do mercado (gráfico abaixo). Seria insalubre manter uma parcela tão grande do mercado sob uma única companhia — ainda que não se fale na fusão das empresas —, e o movimento poderia minar a diversidade no K-pop.
Juntas, SM e HYBE também dominam o mercado de vendas de álbum/músicas (70%), de venda de performances e shows (89%) e detém mais artistas no ranking de Top 100 álbuns mais vendidos (64%).
Para os concorrentes, seria uma competição injusta. Para os fãs, o impacto do monopólio seria sentido no bolso. Isso porque, segundo o CFO, a SM coloca preços razoáveis nos ingressos paras shows, e o comparativo entre as duas empresas mostra que a HYBE passou a elevar exponencialmente os preços de ingressos a partir de 2019. Hoje, é mais caro assistir a um show de um artista da HYBE do que o de um artista da SM, e a HYBE é apontada como a responsável pela escalada astronômica no preço dos ingressos.
Irregularidades na compra pela HYBE
O representante da SM diz ainda que, além dos problemas no "resultado" da compra, existem também problemas no processo, especulando diretamente sobre a legalidade da operação acionária. A compra de ações (via Soo-Man) ocorreu simultaneamente à sinalização de interesse na oferta pública, portanto, elas deveriam ser consideradas um evento único e submetidas à revisão da FTC (Fair Trade Comitee/ Comitê de Transações Limpas) — o que não aconteceu.
O CFO da SM acredita que a HYBE "dividiu" a compra para evadir a fiscalização, garantir as ações e ganhar um prazo a mais para redigir o relatório de merger filing, que é um requisito legal da transação. Se a porcentagem de ações ultrapassasse 15%, a antiga Big Hit teria que entregar o relatório em um mês após a compra; mas, como a empresa adquiriu só 14,8% e o restante deve ser comprado apenas em março, a HYBE terá até abril para preparar esse relatório. Essa movimentação, segundo o executivo da SM, parece ser um plano pré calculado.
A revisão da FTC ainda pode ocorrer e resultar em três hipóteses: 1) anular o negócio com a HYBE, o que seria maléfico para a SM porque faria o preço das ações despencarem; 2) exigir condições para a aprovação, algo também negativo, pois forçaria a SM a adptar — e possivelmente diminuir— seus negócio para cumprir as exigências; e 3) a revisão ser adiada, o que adiaria também a agenda de trabalhos da SM.
Posição dos empregados
A maioria dos funcionários da SM Ent. já havia se manifestado contrária à aquisição pela HYBE em uma carta-aberta divulgada na última semana. A posição foi reiterada no vídeo, que expôs uma enquete virtual na qual 85% dos empregados votaram em oposição à HYBE. Além deles, Co-CEOS e executivos da SM que completam o quadro de 25 maiores acionistas (com exceção da HYBE) também foram contrários à tomada de poder da concorrente.
A SM também liberou um cronograma com documentos que se tornarão públicos a partir dessa semana —começando com a receita da empresa em 2022 — e que devem fortalecer a imagem do conglomerado até março, quando suas ações entrarão em oferta pública. O CFO da SM encerra o vídeo reconhecendo a contribuição de Soo-Man para a indústria do K-pop, mas confirmando que a decisão do fundador de vender suas ações veio como um choque.
O vídeo termina com um comunicado do Conselho de Funcionários que afirma, em meio às acusações de corrupção de Soo-Man, que 208 empregados da SM foram usados pelo executivo e que Soo-Man "fugiu e abandonou" a empresa. O Conselho reforça o compromisso de continuar protegendo a empresa e reafirma oposição à tomada de poder pela HYBE.
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